sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Qual é o seu conto de fadas?


A cada acordar, ela sabia que viveria um conto de fadas ao seu lado, todos os momentos juntos eram inesquecíveis. Marcantes. Eram compostos por risadas extravagantes e algumas tímidas, beijos e carinhos.
Ele a buscava na escola todos os dias, e a cada dia era uma surpresa. Um lugar diferente, um beijo, uma piada, um elogio novo. Ele sempre a deixava em casa. Mas logo em seguida seu telefone tocava, ela atendia ainda em êxtase do momento maravilhoso que tiveram juntos, e era ele no outro lado da linha. Mais sorrisos, mais poesias, mais carinhos. E sempre quando desligava o seu telefone, uma lágrima solitária rolava no seu rosto, porque ela sabia que estava indo embora mais um dia ao seu lado.
Se deitou para dormir, antes de pegar no sono leu mais um capitulo do seu livro de poesias, terminado e o colocou sobre o seu criado mudo. Ouviu os pingos da chuva ao lado de fora batendo no chão e foi com essa melodia que se pôs a dormir. O telefone tocou no andar de baixo, um estranho arrepio percorreu pela sua espinha, já era tarde para alguém ligar, em seguida sua mãe entrou no quarto, ela estava com medo.
Medo de que? Foi uma ligação, não foi nada de mais. O medo estava estampado no seu rosto e parecia contagiar o rosto da menina, ambas se abraçaram e choraram, quando em soluços sua mãe mandou ela ir ao hospital que o seu namorado estava a sua espera.
Não houve lágrimas, nem falas, não houve escândalo ou tremor. O que ela sentia era muito mais do que qualquer sentimento que pudesse ser expresso em uma simples reação. Optou por não acreditar, deitou na cama, sua mãe saiu do quarto, virou para o lado e viu um pingo cair sobre o seu travesseiro, ele estava chorando a sua espera, e ela sentiu isso. Nesse momento ela correu na direção do hospital.
Pessoas vestidas de branco estavam em todos os lados, exceto na bancada da atendente, ali estavam pessoas chorando, sendo abraçadas. Quando viram a menina, se afastaram, engoliram as lágrimas e os soluços, abaixaram a cabeça. A médica se dirigiu a ela indicando onde estava o menino, chegando no quarto a deixou sozinha com ele.
Ela o abraçou e o beijou. Então ele pediu para que ela lesse o livro que estava sob a cadeira ao lado da cama, lá estava escrito:
"Eu te amei como ninguém poderia amar e mesmo assim não foi suficiente. Busquei fazer dos teus dias ao meu lado, os melhores e mesmo assim não foram o suficiente. Te ensinei a sorrir mesmo quando todos lhe mandavam chorar. Hoje você vai descobrir que não me terá ao seu lado, mas peço que sempre que se lembrar de mim não impeça a lágrima de cair, mas que ela caia e escorra pelo canto do seu sorriso, e que os seus olhos brilhem da mesma forma que brilhavam ao me ver por uma pessoa que possa ser suficiente em tudo o que eu não era. Obrigado por ter sido a minha vida, eu te amo e não peço um "eu também" em troca, só o fato deu te amar já é suficiente para mim."
Ao terminar de ler, olhou com os olhos inundados pela tristeza que não cabiam mais dentro dela, e viu que os olhos brilhantes ao qual ela sempre foi apaixonada, tinham se tornado opacos. Na mesma hora houve uma correria de médicos tentando o ressuscitar, ela permaneceu imóvel, pôde contemplar a morte do seu maior motivo de se manter viva. A correria foi diminuindo, então foi como se tivessem tirado a sorte de quem contaria para a menina que ele não tinha sobrevivido. Uma mulher perdeu, teve que contar, usou palavras que nem mesmo ela deveria saber o significado, também escolheu palavras médicas para não mostrar o quanto o problema era grave. Mas não precisava de todo aquele discurso, só a folha do caderno e os olhos opacos, já diziam tudo o que ela precisava ouvir.
Houve um ultimo beijo, uma ultima lágrima, um ultimo sorriso e um ultimo brilho. Não houve despedida, só uma carta. Era inacreditável ver que todo aquele conto de fadas tinha chegado ao fim de uma forma tão trágica.
Todos não diziam que sempre terminava " e eles viveram felizes para sempre"? =/